sexta-feira, 2 de maio de 2014

Primeiro Atlas dos Morcegos mapeou distribuição de espécies


Um trabalho de mapeamento permitiu saber a distribuição de 24 espécies de morcegos presentes em Portugal e descobrir onde se encontram algumas menos conhecidas, um contributo importante para analisar a sua evolução e definir medidas de conservação.
O principal objetivo deste primeiro Atlas foi "organizar a informação que temos sobre a distribuição das espécies de morcegos em Portugal Continental, [pois] existem muitos dados "perdidos"", disse hoje à agência Lusa a chefe da Divisão de Conservação da Biodiversidade do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).
O projeto, que decorreu durante dois anos e envolveu cerca de 150 pessoas, também pretendia contribuir para a criação de uma base de dados da distribuição das espécies, disponível para todos os que trabalham na conservação dos morcegos, e para a sensibilização da população para a importância destes animais no equilíbrio dos ecossistemas.
Quando questionada acerca da existência de conclusões inesperadas na pesquisa, Ana Rainho explicou que o Atlas vai ser a referência para a construção de projetos futuros e, "sendo o ponto zero deste trabalho, as surpresas são sempre relativas e a partir daqui é que será analisado como no futuro a distribuição das espécies vai ou não alterar-se, como evolui no tempo".
A técnica do ICNF salientou que as questões "são sempre pontuais e relacionadas com espécies recentemente conhecidas no país" e apontou o exemplo do "eptesicus isabellinus [morcego-hortelão-claro], cuja distribuição conhecida era essencialmente no norte de África e desde que foi confirmada a sua presença em Portugal julgava-se" que estava mais no sul do país.
Com o Atlas, que é hoje apresentado, foi possível confirmar que "não é bem assim e a espécie está presente sempre no interior do país, mas até Trás-os-Montes, o que foi uma surpresa" para Ana Rainho.
Outro dado interessante refere-se ao morcego-arborícola-grande, ou nyctalus noctula, cuja observação em Portugal tinha sido comprovada através de um exemplar de museu, "que não se sabe quando foi recolhido", e desde ai não tinha sido possível confirmar se ocorria ou não no país.
"Apesar de não termos respostas para as espécies todas, já podemos confirmar definitivamente que a espécie está presente em Portugal, passadas muitas décadas", resumiu a chefe de Divisão do ICNF.
Perceber a evolução de uma espécie nas suas áreas de distribuição é importante para definir se está ameaçada ou não e para avançar com medidas que garantam o seu bom estado de conservação.
Por exemplo, é esperado que as alterações climáticas afetem muito as espécies da região do mediterrâneo devido ao aumento da temperatura e do potencial de desertificação.
"Os morcegos são espécies que dependem muito da água e é muito provável que afete o seu estado ou a sua distribuição e isso poderá ser agudizado pelas alterações do uso do solo, como a intensificação das áreas agrícolas ou a desflorestação", explicou Ana Rainho.
Entre os morcegos, há "algumas espécies com problemas de conservação, mas há muitas ainda que não têm estatuto de conservação definido, não são conhecidas o suficiente para conseguirmos dizer se estão ameaçadas ou não", disse ainda a responsável.

Grande quantidade de lixo no mar profundo da Europa


Garrafas, sacos de plástico e redes de pesca foram alguns dos tipos de lixo humano encontrados no mar profundo da Europa, segundo um estudo que destaca a necessidade de ações para impedir o aumento do lixo nos ambientes marinhos.
"O lixo foi encontrado ao longo de todo o Mediterrâneo e costas da Europa, estendendo-se até à crista dorsal mesoatlântica, a 2.000 quilómetros de terra", lê-se no recente trabalho de investigação a que a Lusa teve acesso, que envolveu 15 organizações de toda a Europa e foi liderado pelo centro IMAR da Universidade dos Açores, sediado no Departamento de Oceanografia e Pescas.
"A grande quantidade de lixo que chega ao mar profundo é um assunto de importância mundial. Os resultados do estudo destacam a extensão do problema e a necessidade de ações para prevenir a crescente acumulação de lixo nos ambientes marinhos", sublinham os investigadores.
De acordo com o estudo, que beneficiou de uma colaboração entre dois projetos de investigação - o projeto HERMIONE, financiado pela União Europeia e coordenado pelo Centro Nacional de Oceanografia em Southampton, e o projeto "Mapping the Deep", liderado pela Universidade de Plymouth -, "o lixo é um problema no ambiente marinho ao ser confundido com alimento por alguns animais, podendo enlear corais e peixes -- um processo conhecido como 'pesca fantasma'".
Cerca de 600 amostras foram recolhidas pelos cientistas ao longo do oceano Ártico e do oceano Atlântico, incluindo o mar Mediterrâneo, entre os 35 e os 4.500 metros de profundidade, indica o relatório.
"Concluímos que o plástico foi o item de lixo mais comum no fundo marinho, enquanto o lixo associado às atividades da pesca (redes e linhas presas no fundo) são particularmente comuns em montes submarinos, bancos e cristas oceânicas", precisou Christopher Pham, investigador da Universidade dos Açores.
"Esta pesquisa demonstrou que o lixo humano está presente em todos os habitats marinhos, das praias às zonas mais profundas e remotas dos oceanos", observou.
"A maior parte do mar profundo continua inexplorada pelos humanos e esta é a nossa primeira visita a muitos destes locais, pelo que ficámos chocados ao descobrir que o lixo chegara lá primeiro que nós", acrescentou o cientista.
Segundo o estudo, foi encontrado lixo "em praticamente todos os locais investigados, com o plástico a contribuir globalmente com cerca de 41 por cento e aparelhos de pesca abandonados com cerca de 34 por cento do total", tendo também sido descoberto "vidro, metal, madeira, papel/cartão, roupa, cerâmica e outros materiais não identificados".
Uma das descobertas mais interessantes, de acordo com a investigadora Kerry Howell, professora associada no Instituto Marinho da Universidade de Plymouth, foi "terem-se encontrado depósitos de carvão queimado no fundo marinho, largados no mar por navios a vapor desde o final do século XVIII".
"Já se conheciam alguns depósitos no leito marinho, mas conseguimos perceber que a sua acumulação está associada às rotas marítimas modernas, o que indica que os principais corredores de navegação não foram alterados nos últimos dois séculos", frisou.
O cientista Christopher Pham sublinhou que "no geral, as acumulações mais densas [de lixo] foram encontradas nos desfiladeiros submarinos profundos" e a investigadora Veerle Huvenne, do Centro do Oceanografia de Southampton, explica que "os desfiladeiros submarinos formam a principal ligação entre as águas costeiras e o mar profundo" e que "os desfiladeiros localizados perto de grandes cidades costeiras, como o desfiladeiro de Lisboa ou o de Blanes, em Barcelona, podem transportar o lixo marinho até profundidades superiores a 4.500 metros".
O artigo científico, intitulado "Marine litter distribution and density in European Seas, from the shelves to deep basins", está publicado no jornal de acesso livre PLOS ONE.